As flores não são todas iguais e daí necessitarem de cuidados especiais. Cuidados esses que no passar dos dias nos ensinam e motivam para que, e cada vez mais, olhemos para o jardim e sintamos a harmonia das cores, dos cheiros, dos afectos.



É neste jardim que, todos os dias, aprendemos a ser cada vez mais felizes.







A Joana é uma flor especial.







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09/04/2014



"quem me dera conseguir não pensar em nada, deambular pela vida sem desejar, sem projectar fosse o que fosse, nem querer possuir mais que a humilde condição de estar vivo."

Al Berto, 'O Medo'

01/04/2014


"Não vale a pena falarmos, para quê, quanto mais falamos mais a gente se magoa um ao outro, fomos-nos distanciando tanto com o tempo, sinceramente nunca imaginei que isto acontecesse, não era assim ao princípio mas nunca é assim ao princípio.

As coisas começam a correr mal devagarinho, não damos conta e nisto, de repente, tão longe um do outro, linguagens diferentes, falta de paciência, silêncios que magoam, frases a que não se responde, uma irritação surda, uma impaciência que se tenta disfarçar sem a conseguir disfarçar totalmente, um desconforto mudo mas presente, cada vez mais presente, uma espécie de enjoo, uma espécie de desgosto, o que faço aqui, o que fazes aqui, qual o motivo de continuarmos juntos se não faz sentido, qual o motivo de teimarmos ainda?"



 António Lobo Antunes

“Desde que nascemos estamos não só prontos para morrer, mas estamos sobretudo preparados para nascer, as vezes que forem precisas.”

 

José Tolentino Mendonça

Expresso 22/março de 2014

27/03/2014


Um velho índio estava a falar com o seu neto e contava-lhe:

“Sinto-me como se tivesse dois lobos lutando no meu coração. Um é lobo irritado, violento e vingativo. O outro está cheio de amor e compaixão.”

 

O neto perguntou:

“Avô, diga-me, qual dos dois ganhará a luta no seu coração?”

O avô respondeu:

“Aquele que eu alimente”

 

Autor: não sei quem foi

26/03/2014


Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si, isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

17/02/2014


ESCUTA

Quanto te pedi para me escutares

E tu deste bons conselhos, não fizeste o que te pedi.

 

Quando te pedi para me escutares

E tu dizes que eu não devo sentir o que sinto,

Tu não estás a levar os meus sentimentos a sério.

 

Escuta. Tudo o que eu quero é que me escutes.

Não digas nada, não faças nada, apenas escuta.

Bons conselhos não são caros…

Eu posso fazer eu mesma, eu não sou desprovida de recursos

Talvez em baixo, perdida e confusa, mas não sem recursos.

 

Quando fazes algo por mim, que poderia ter sido eu a fazer

Contribuís para o meu medo e para a minha fraqueza.

 

Mas, quando aceitas o facto de eu sentir com sinto,

Por mais estranhos que esses sentimentos te possam parecer,

Então eu posso parar com os meus esforços para te convencer

E finalmente posso tentar compreender o significado dos meus sentimentos

 

E quando tudo ficar claro,

As respostas virão e não necessitarei de conselhos.

 

Até os sentimentos estranhos tem um sentido,

Quando conseguimos perceber de onde eles vêm.

 

Talvez seja por isso, que por vezes, rezar ajuda

Porque Deus não fala, nem dá conselhos e não tenta tomar conta das coisas.

Ele apenas escuta

E deixa-te tomar conta dos teus próprios problemas.

 

Assim, eu peço-te, escuta-me

E, caso queiras falar, espera pela tua vez,

Então eu escutar-te-ei.

 

 

Poema de uma mãe holandesa

Traduzido por Ana Isabel Violante da Cruz
 
 
 
E TU NÃO ESCUTAS-TE
 
 
 
 
 
 
 
 
 

07/02/2014


"...primeiro, me acabou o riso; depois, os sonhos; por fim, as palavras. É essa a ordem da tristeza."

Mia Couto, No Livro "A varanda do frangipani"