As flores não são todas iguais e daí necessitarem de cuidados especiais. Cuidados esses que no passar dos dias nos ensinam e motivam para que, e cada vez mais, olhemos para o jardim e sintamos a harmonia das cores, dos cheiros, dos afectos.



É neste jardim que, todos os dias, aprendemos a ser cada vez mais felizes.







A Joana é uma flor especial.







------

20/11/2014


20 coisas que aprendi com meu filho especial

Escrito por Andrea Werner Bonoli em 17/mai/2012 em Autismo, mãe especial |



1. Aprendi que não sou dona do tempo. Nada vem exatamente quando eu espero, mas isso inclui as boas surpresas também.

2. Aprendi a respeitar ainda mais todo tipo de diversidade. E que todos, independente de raça, condição social, crença ou orientação sexual merecem ser respeitados. O que todo mundo quer, na vida, é ser feliz e ser aceito.

3. Aprendi a ler linguagem corporal. Já sei muita coisa sobre o meu filho só de olhar pra ele. E isso serve para os filhos das amigas também!

4. Aprendi que, aquilo que a gente fala quando está grávida (o importante é ter saúde) é, realmente, muito importante. Pouco importa se é menino ou menina, se tem olhos verdes ou castanhos.

5. Mas se, por um acaso, a criança não vier com 100% de saúde – seja lá o que isso significa – , você vai aprender a se virar também.

6. Aprendi que vale a pena perder um tempo observando o vento balançar a árvore, as folhas que vão caindo, a chuva batendo na janela.

7. Aprendi que ninguém conhece meu filho tão bem quanto eu. E que, quem sabe o que é o melhor pra ele, sou eu. E, justamente por isso, aprendi a confiar mais nos meus instintos com relação a ele.



8. Aprendi que o controle das coisas não está totalmente nas minhas mãos. E que o futuro pode ser menos assustador se pararmos de pensar nele 100% do tempo.



9. Aprendi que é importante valorizar cada passo de formiga que meu filho dá. E que muitas mães – principalmente as mães de crianças “normais”- não sabem valorizar coisas simples como um “por que?” e reclamam das coisas mais absurdas. Não entendem que, pra algumas crianças, fazer algumas coisas triviais assim é o equivalente a um milagre.



10. Com isso, aprendi a valorizar cada olhar, cada abraço, cada carinho, cada nova palavrinha que pode demorar 1 mês pra sair…e mais 4 meses pra ser repetida.



11. Aprendi que nem tudo que acontece é resultado das nossas escolhas ou desejos. Mas que podemos, muitas vezes, escolher como reagir a esses acontecimentos.



12. Aprendi que é importante estar bem para cuidar de quem está comigo.



13. Aprendi que cada pessoa sofre de um jeito. Umas começam a fumar, outras vão malhar, outras vão comer, mas todas sofrem.



14. Aprendi que não existe família perfeita e que todo mundo tem problemas. E o meu não é maior que o seu. Só é diferente.



15. Aprendi que várias pessoas que reagem de forma inapropriada perto de uma criança com necessidades especiais são, simplesmente, desinformadas. Outras, infelizmente, são cruéis mesmo.



16. Aprendi a não julgar ninguém pelas aparências. Principalmente aquela criança que parece agitada demais, grita, ou é inconveniente.



17. Aprendi que os profissionais que vão fazer meu filho progredir mais são aqueles que, verdadeiramente, amam o que fazem. E que amam o meu filho também.



18. Aprendi que, mais triste que descobrir que o filho é autista, deve ser descobrir que o filho não respeita ou ataca pessoas com deficiências, homossexuais, negros, ou qualquer outra minoria.



19. Aprendi que pedir ajuda não significa que você é incapaz. Significa que é humano.



20. Aprendi que o sorriso é uma linguagem universal. E que o amor não precisa de voz.




12/11/2014


“Já não sei muito bem quem sou, não sei muito bem onde estou, e já nem sei que idade tenho. Penso que continuo a ter trinta anos e estou-me nas tintas para tudo. Tenho a sensação de ter embarcado numa enorme farsa, não sou sério, não levo nada a sério. Continuo a dizer disparates e a escrevê-los. O meu caminho termina num impasse, a minha vida acaba num beco sem saída.”

Jean-Louis Fournier

07/11/2014

Náufragos que navegam tempestades
José Luís Nunes Martins
i-online 1 Set 2012


O sofrimento é muitas vezes maior, e mais honroso, precisamente porque quase ninguém quer saber do que sente quem sofre, até porque, sendo partilhável, é contagioso

As tempestades são sempre períodos longos.

Poucas pessoas gostam de falar destes momentos em que a vida se faz fria e anoitece, preferem histórias de praias divertidas às das profundas tragédias de tantos naufrágios que são, afinal, os verdadeiros pilares da nossa existência.

Gente vazia tende a pensar em quem sofre como fraco... quando fracos são os que evitam a qualquer custo mares revoltos, tempestades em que qualquer um se sente minúsculo, mas só os que não prestam o são verdadeiramente.

Para a gente de coração pequeno, qualquer dor é grande. Os homens e mulheres que assumem o seu destino sabem que, mais cedo ou mais tarde, morrerão, mas há ainda uma decisão que lhes cabe: desviver a fugir ou morrer sofrendo para diante.

Da morte saímos, para a morte caminhamos. O que por aqui sofremos pode bem ser a forma que temos de nos aproximarmos do coração da verdade.

Haverá sempre quem seja mestre de conversas e valente piloto de naus alheias, os que sabem sempre tudo, principalmente o que é (d)a vida do outro, e mais especificamente se estiver a passar um mau bocado. Logo se apressam a dizer que depois da tempestade vem a bonança, e que elas são tão fortes quanto passageiras... sem cuidarem de entender, ou se lembrarem sequer, que quem está a sofrer sente profundamente cada pinga de chuva que lhe molha e estraga o presente e os sonhos... e que depois de um pingo de chuva vem, quase sempre, outro e outro... e só um pingo será o último...

As tragédias tendem a suceder-se mais do que a intercalar-se. Há quem viva uma vida inteira sem grande motivo para sorrir. Sem nunca ser feliz. Mas esse é, precisamente, alguém que merece mais do que os demais a admiração dos seus semelhantes. Admiração, porque heróis não são os que passam a vida a festejar, mas os que, ainda que cheios de frio, em noites escuras de trovoada, podendo até morrer à espera da manhã, acolhem a dor e a tristeza como coisas suas e vivem, apesar de tudo. De tudo. Com uma certeza: tudo tem sentido, mesmo quando não se sabe qual é.

Há homens e mulheres que passam as suas noites em desgraça viva e desperta, e enquanto os outros dormem, vêem o nascer do sol e sonham... bastando-lhes, por vezes, apenas um breve pedaço de vento na face, que sentem como um beijo, para que mais forças apareçam de onde não as havia, e se enfrente ainda mais um dia, sofrendo, doendo, mas vivendo.

A tristeza, que tantas vezes se combate, é um estado de alma mais denso e puro do que se costuma considerar. É mais real. Fugir dele será fugir do duro caminho que nos fará caminhar felizes, ainda que por entre incontáveis sofrimentos, aparentemente sem sentido.

Os antigos acreditavam em deuses que invejavam os homens que, mortais, viviam sem que o medo da morte os fizesse recuar. Acreditavam também que não há vitória sem superação dos obstáculos, não há glória na fuga, nem na desgraça alheia. Hoje, as gentes pensam de forma bem diferente. Dizem que basta, que há que reagir, para não nos deixarmos ir abaixo, que os momentos menos bons devem ser apenas oportunidades para o sucesso e outras tontices do mesmo nível. O sofrimento é muitas vezes maior, e mais honroso, precisamente porque quase ninguém quer saber do que sente quem sofre, até porque, sendo partilhável, é contagioso... Mas dois heróis serão sempre mais do que um e nenhum deles está só.

Se o leitor conhece alguém que sofre, sente-se ou deite-se ao seu lado e, sempre em silêncio, deixe-se ficar.
A dor aproxima-nos da perfeição.